segunda-feira, março 22, 2021

A Origem



GRAÇA PINA DE MORAIS
capa de Maria Helena Nunes dos Santos

Lisboa, 1958
Sociedade de Expansão Cultural
1.ª edição
19,5 cm x 12,7 cm
320 págs.
exemplar estimado, capa suja; miolo limpo
20,00 eur (IVA e portes incluídos)

Do Posfácio da escritora Fátima Maldonado para a reedição deste livro (Edições Antígona, Lisboa, 1991):
«[...] “A guerra começava. Moviam-se interesses de grandes países, ideias, questões de dinheiro, rivalidades políticas, rivalidades económicas... Mas, na realidade, era como sempre mais uma eclosão da angústia humana.” Começa assim o VI capítulo de A Origem, que Graça Pina de Morais escreve em 1958 [...]. São duzentas e cinquenta páginas de interrogações e nem uma resposta. O que não satisfaz ninguém nem é função habitual dos manuais recentes, onde a escrita ao estagnar cria focos de paludismo que vão infectando cada vez mais leitores. Não é portanto um livro moderno visto que é construído com ênfase. Privilegia tudo o que não tem mediata evidência. Coisas não quantificáveis, como o espírito da terra ou a respiração das casas ou os ajustes com a morte – um fato a que, desde o nascimento, se vão alargando as costuras. Tramas de desgarre, como a fúria do sangue, as sentenças da alma, ou as marés vivas do corpo. Escolhos onde naufraga a modernidade, incapaz de assimilar o que sobra do héctico racionalismo em que se alistou. [...] Graça Pina de Morais já em 1958 tornara este livro numa expedição arqueológica. Página a página escava câmaras, põe a descoberto figuras soterradas, desvenda selos, desvela faces. Ao exumar do pó o último caixão damo-nos conta que as sete gárgulas que se ajoelham dos lados não são guarda bastante para tanta calamidade. Porque da família se trata e das execuções entre pares se faz a peritagem. Mutilações donde o amor nunca se ausenta nem desvia a face, antes se deleita a cada órgão suprimido. Nesta cerimónia de sangue oficia Graça Pina de Morais, a sacerdotisa. Num quarto forrado de cetim amarelo – não sei porquê mas a luz que infiltra o livro parece-me provir desse choque – vai com as mãos protegidas por luvas, daí o ênfase, autopsiando sucessivas memórias. No fim pisamos carne. Chega-se ao termo com os sapatos sujos de tanta anatomia. Mas se estivermos atentos ouviremos bater o trinco da janela. Alguém se evadiu da mesa sacrificial. Sem ceder a nenhuma interrogação irá fomentar motins por recusa do verbo. [...]»
Um livro notável, que tem escapado à observação mórbida dos profissionais... felizmente.

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