GUY DEBORD
Gilles Ivain
Mustapha Khayati
trad. e pref. Júlio Henriques
ilust. Francisco Rebolo, João Massano, Juliana Julieta, Massimo Nota, Miguel
Ângelo Marques e Nunes da Rocha
grafismo de Paulo da Costa Domingos
Lisboa, 2021
Barco Bêbado
1.ª edição
210 mm x 130 mm
96 págs.
subtítulo: Seguido de textos do boletim Internationale Situationniste
profusamente ilustrado
corte das folhas carminado
exemplar novo
20,00 eur (IVA e portes incluídos)
«[…] É preciso lançar novas forças para a batalha dos lazeres, e nós
teremos nela o nosso lugar.
Um ensaio primitivo de um novo modo de comportamento já foi obtido com aquilo a
que chamamos deriva, que é a
prática de uma deslocação passional através da rápida mudança de ambientes, ao
mesmo tempo que é um meio de estudo da psicogeografia e da psicologia
situacionista. Mas a aplicação desta vontade de criação lúdica deve estender-se
a todas as formas conhecidas de relações humanas e, por exemplo, influenciar a
evolução histórica de sentimentos como a amizade e o amor. Tudo leva a crer que
é em torno da hipótese das construções de situações que se joga o essencial da
nossa investigação.
A vida de um homem é uma sequência de situações fortuitas, e embora nenhuma
delas seja exactamente similar a outra, pelo menos estas situações, na sua
imensa maioria, são tão indiferenciadas e tão baças que dão perfeitamente a
impressão de similitude. O corolário deste estado de coisas é que as raras
situações tocantes conhecidas numa vida fixam e limitam rigorosamente esta
vida. Devemos tentar construir situações, ou seja, ambientes colectivos, um
conjunto de impressões que determinam a qualidade de um momento. Se tomarmos
como exemplo simples a reunião de um grupo de indivíduos num dado lapso de
tempo, seria preciso estudar, tendo em conta os conhecimentos e meios materiais
de que dispomos, que organização do lugar, que escolha dos participantes e que
provocação dos acontecimentos convêm ao ambiente desejado. É indubitável que os
poderes de uma situação se alargarão consideravelmente no tempo e no espaço com
as realizações do urbanismo unitário ou a educação de uma geração
situacionista. A construção de situações começa para lá do desmoronamento
moderno da noção de espectáculo. É fácil ver a que ponto o próprio princípio do
espectáculo está ligado à alienação do velho mundo: a não-intervenção. Ao
invés, vemos como as mais válidas investigações revolucionárias na cultura
procuraram quebrar a identificação psicológica do espectador com o herói, para
levar este espectador à actividade, provocando as suas capacidades de alterar a
sua própria vida. Deste modo, a situação é feita para ser vivida pelos que a
constroem. O papel do “público”, senão passivo pelo menos apenas figurante,
deve diminuir sempre na situação criada, ao mesmo tempo que aumentará a parte
dos que não podem ser chamados actores, mas, num sentido novo deste termo, viventes.
É preciso multiplicar, digamos, os objectos e os sujeitos poéticos,
infelizmente hoje tão raros que os mais mínimos adquirem uma importância
afectiva exagerada; e organizar os jogos destes sujeitos poéticos entre estes
objectos poéticos. É este todo o nosso programa, que é essencialmente
transitório. As nossas situações serão sem futuro, serão lugares de passagem. O
carácter imutável da arte, ou de qualquer outra coisa, não entra nas nossas
considerações, que são sérias. A ideia de eternidade é a mais grosseira que um
homem pode conceber a propósito dos seus actos. […]»
Guy Debord
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domingo, junho 19, 2022
Relatório Sobre a Construção das Situações e Sobre as Condições da Organização e da Acção da Tendência Situacionista Internacional
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