quinta-feira, janeiro 13, 2022

Urbe Sub Rosa – Carmes 1972-2021

 


PAULO DA COSTA DOMINGOS
capa de Patrícia Guimarães
ilust. (fotog.) Pedro S. Costa, Rui Baião e Telma Rodrigues

Lisboa, 1 de Fevereiro de 2022
Barco Bêbado | viúva frenesi
1.ª edição [única]
190 mm x 110 mm
694 págs.
ilustrado com cinco retratos do autor
exemplar novo
27,00 eur (IVA e portes incluídos)

Meio século de acção escrita. Toda a obra poética que o autor resolveu dar por salva da erosão: actualizada, revista e corrigida (à luz de um critério ortográfico idiossincrático). Também alguns versos inéditos a completam. Um livro que não foi escrito para a História da Poesia Lamechas e dos Sentimentalismos Masturbativos. O lirismo que o in-forma é o do veneno num saco de lacraus.
Três exemplos:

Na manhã incerta da guerra biológica
o sol que aquece o vidro da janela
resume todo o nosso plano táctico,
pontes de barcas nos ligam, o pingo
isócrono da torneira acorda o calendário,
destapa o imprevisto e sua fraqueza.

As paisagens atravessadas perderam
o horizonte, sob reversões políticas.
A falta de moral pretende à falta d’ ânimo
como duas noivas estéreis
subitamente fecundadas in vitro.

¿Que fazer... que fazer
com aquilo que se ignora?

*

Éramos uma casa edificada
nas traseiras da tortura,
com a serpente que güarda

o termómetro de mercúrio.
Da varanda víamos os jogos
de sociedade e a socialização

dos miúdos emporcalhados. Ali,
esporadicamente, o teatro de robertos
e o assobio do amola-tesouras, isso,

vinha cobrir, com sua música e ditos,
uivos dos prisioneiros do Estado e
as intrigas pendentes de mulheres-

-a-dias. Nosso amor corrompe
essa linha divisória no labirinto
estéril do tirano: do calabouço

já se disse qüase tudo, mas havia
a caserna, o liceu, o hospital
e o manicómio ali tão perto…

Fomos uma casa do passado
e, aqui chegados, não sei
qüal a próxima Galáxia.

*

Qüando por vezes a neblina
nos toca e, húmidos, procuramos
a boa saída do abismo,

e o chão cheira a uma terra
escondida na infância e sorrimos
com olhos como fògos-fátuos,

penso: que nunca nos separaremos,
mãe, tu munida de: «amo-te»,
e um pente encarnado e o peito

morno; e o ventre vibrante
desfeito em pérolas silabadas
como escandir estes pobres versos.

Nunca estive à tua altura,
lá onde a ordem perd’ a compostura –
¡que os muros-do-asilo rugem!

Eu só não tinha que haver partido;
deveríamos ter cortado logo ali
os pulsos, o cordão umbilical,

e celebrado um potlatch tal
queimando o nosso ópio
em absoluta negação de Tudo.


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