segunda-feira, fevereiro 24, 2020

O Sistema Corporativo


MARCELLO CAETANO

Lisboa, 1938
O Jornal do Comércio e das Colónias [ed. Autor ?]
1.ª edição
226 mm x 160 mm
104 págs.
exemplar estimado, capa e contracapa um pouco manchadas; miolo limpo
assinatura de posse de Rodrigo d'Orey no ante-rosto
22,00 eur (IVA e portes incluídos)

Uma passagem do texto deste professor de Direito:
«[...] Num país agrícola não industrializado, em que predomina a pequena propriedade que vai de par com a pequena oficina e o labor caseiro, o campo não forma uma profissão, nem uma classe: é um meio social, isto é, uma comunidade de homens de diferentes classes e profissões que, pelas circunstâncias da sua vida colectiva toda ao redor da terra, são chamados à cooperação.
[...] Assim: é bem sabido que não existe, muitas vezes, diferença de mentalidade e hábitos entre o proprietário da terra e o arrendatário, parceiro, caseiro ou seareiro; que muitos pequenos proprietários amanham parte do ano as suas leiras e, no resto do tempo, dão dias de trabalho assalariado a outros proprietários maiores; que os pequenos artífices e industriais rurais são simultâneamente agricultores; e que, enfim, toda a vida rural é solidária na dependência da terra, e dos seus caprichos – o tempo, as maleitas e a sorte.
[...] A organização do meio rural, assim definido, faz-se nas Casas do Povo, fórmula feliz e original do sistema corporativo português. [...]»
Para além da sua óbvia função centralizadora do referido “meio social” em vários aspectos de utilidade material imediata, como o auxílio na doença ou o micro-crédito, mas acima de tudo a concentração, a muito baixo preço, de produtos que iam abastecer os grossistas abastecedores das zonas urbanas, eram, pois, estas as “redes sociais”, os facebooks dessa época remota, imprescindíveis à coesão local e à escuta e vigilância policial por parte dos ouvidores e olheiros da ditadura. E à semelhança da ditadura e do seu corporativismo, temos hoje a democracia dirigida pela comunicação social e as redes para partilhar a vida privada. Neste sentido, são os livros velhos que nos revelam verdades novas.

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