MARCELLO CAETANO
Lisboa, 1938
O Jornal do Comércio e das Colónias [ed. Autor ?]
1.ª edição
226 mm x 160 mm
104 págs.
exemplar estimado, capa e contracapa um pouco manchadas;
miolo limpo
assinatura de posse de Rodrigo d'Orey no ante-rosto
22,00 eur (IVA e
portes incluídos)
Uma passagem do texto deste professor de Direito:
«[...] Num país agrícola não industrializado, em que
predomina a pequena propriedade que vai de par com a pequena oficina e o labor
caseiro, o campo não forma uma profissão, nem uma classe: é um meio social, isto é, uma comunidade de
homens de diferentes classes e profissões que, pelas circunstâncias da sua vida
colectiva toda ao redor da terra, são chamados à cooperação.
[...] Assim: é bem sabido que não existe, muitas vezes,
diferença de mentalidade e hábitos entre o proprietário da terra e o
arrendatário, parceiro, caseiro ou seareiro; que muitos pequenos proprietários
amanham parte do ano as suas leiras e, no resto do tempo, dão dias de trabalho
assalariado a outros proprietários maiores; que os pequenos artífices e
industriais rurais são simultâneamente agricultores; e que, enfim, toda a vida
rural é solidária na dependência da terra, e dos seus caprichos – o tempo, as
maleitas e a sorte.
[...] A organização do meio rural, assim definido, faz-se
nas Casas do Povo, fórmula feliz e
original do sistema corporativo português. [...]»
Para além da sua óbvia função centralizadora do referido
“meio social” em vários aspectos de utilidade material imediata, como o auxílio
na doença ou o micro-crédito, mas acima de tudo a concentração, a muito baixo
preço, de produtos que iam abastecer os grossistas abastecedores das zonas
urbanas, eram, pois, estas as “redes sociais”, os facebooks dessa época remota, imprescindíveis à coesão local e à
escuta e vigilância policial por parte dos ouvidores e olheiros da ditadura. E
à semelhança da ditadura e do seu corporativismo, temos hoje a democracia dirigida pela comunicação social
e as redes para partilhar a vida privada.
Neste sentido, são os livros velhos que nos revelam verdades novas.
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