[AQUILINO RIBEIRO,
pref.]
Lisboa, 1955
O Mundo do Livro (de João Rodrigues Pires)
1.ª edição [única]
24,1 cm x 16,7 cm
16 págs. + 176 págs. + 32 págs. em extra-texto
exemplar estimado; miolo limpo
17,00 eur (IVA e portes incluídos)
Aquilino Ribeiro constitui exemplo do grande escritor –
reconhecido grande escritor – que se não furta em apôr uma palavra inteligente
na abertura do “vulgar” catálogo comercial de um alfarrabista. Aqui, bisando o
que já fizera antes para o boletim de O Mundo do Livro, o de 1951. E em defesa
do “negócio”!...:
«[...] Para o bibliófilo – esse benemérito do livro, que o
defende dos terríveis inimigos: o anóbio, que fura uma prateleira de volumes de
ponta a ponta como uma bala; a traça, que rói as cordas e os coiros e faz renda
de Peniche do papel mais precioso; sentinela alerta contra o leitor sebento que
molha o índex na boca para voltar as páginas; contra o encadernador que os
apara; contra o vândalo que os abre com um dedo; contra o José dos Anzóis que
os anota com lápis corriqueiro; que ainda hoje vota a todas as pragas do
inferno os incendiários da Biblioteca bizantina de Alexandria e da Biblioteca
árabe de Granada – para esse, nada mais que dentro da sua esfera, ir folheando
e computando preços, verificando as altas e baixas, pois que são valores
sensíveis de Bolsa, premunindo-se assim com a cotação do dia, ler um catálogo é
o mais útil e regalado dos exercícios. A cada passo, irá experimentando um
frémito de gozo: quando topa com espécies de que também possui o seu exemplar,
bem valorizadas, ou subindo de estimativa.
[...] De facto há, não podia deixar de haver, uma certa
voluptuosidade em roçar, cerebralmente, esses corpos sensuais, que são os
livros bonitos, mesmo através da enumeração dum ficheiro.
De modo que só bárbaros, de que de resto o mundo está
coalhado, desdenham de objecto tão subtil como complexo, complexo desde o
tipógrafo, o solertissimus calchographus dos prelos do Renascimento,
ao papel com a qualidade da pasta e marca de água, para não falar do autor,
que, de resto, nem sempre é o que imprime à espécie os seus altos quilates,
seja ele bem embora um dos sábios da Grécia. [...]»
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