ANTONIO FRANCISCO
BARATA
Évora, 1909
Minerva Commercial, de José Ferreira Baptista
1.ª edição
21,8 cm x 15,6 cm
240 págs. + 16 folhas em extra-texto
luxuosa encadernação em meia-francesa com cantos em pele,
gravação a ouro nos remates da pele e na lombada
aparado e carminado somente à cabeça
conserva as capas de brochura
exemplar em bom estado de conservação; miolo irrepreensível
ostenta colado no verso da pasta anterior o ex-libris de Fernando Alves Barata
90,00 eur (IVA e
portes incluídos)
Inocêncio
Francisco da Silva refere António Francisco Barata, nestes termos, no seu Diccionario Bibliographico Portuguez (vol. VIII, Imprensa Nacional, Lisboa,
1867):
«[...]
natural da villa de Góes, districto de Coimbra, e nascido no 1.º de Janeiro de
1836. Não conheceu seus paes, e creado nos braços da indigencia recebeu apenas
os primeiros elementos da instrucção primaria; porém como fosse dotado de
natural ingenho, começou a supprir do modo que lhe era possivel a falta de
estudos regulares por uma assidua applicação aos livros, aproveitando nella
todos os intervallos, que lhe deixava livres a profissão de barbeiro e
cabelleireiro, que aprendeu em 1848, e ainda agora exerce na cidade de Coimbra.
[...]»
Brito
Aranha, o continuador desse mesmo Diccionario,
vai mais longe (vol. XX, Imprensa Nacional, Lisboa, 1911):
«[...]
Quando o erudito lente da Universidade de Coimbra, já fallecido, dr. Augusto
Filippe Simões, de quem ainda tratarei neste Dicc.,
foi para Evora em commissão dirigir a importante bibliotheca daquella cidade,
ligado por amizade a Antonio Francisco Barata, avaliando lhe as qualidades e o
merecimento revelado em diversas publicações, levou o em sua companhia e ali o
empregou, e nessas funcções, pela ancia de aprender e saber, desenvolveu com
bom fructo o seu amor ás letras. Exerceu, pois, por muitos annos e com
applicação modelar as funcções de conservador na mesma bibliotheca, que
necessita de quem a trate com desvelo para a conservação das preciosidades que
encerra.
No
exercicio desse emprego, Antonio Francisco Barata accumulou as de adjunto no
observatorio meteorologico e de escrivão dos casamentos na camara
ecclesiastica.
Nos
descansos, que eram poucos e curtos, do incessante labutar, e no meio de
desgostos intimos que lhe amarguraram a existencia, não deixou de manter como
podia e com a melhor vontade, a correspondencia com alguns homens mais
distinctos e mais estudiosos, que admiravam e applaudiam nelle o talento, a
applicação e a força de vontade, que venceram muitos desgostos e
contrariedades. Saiu depois do serviço effectivo da bibliotheca de Evora, como
aposentado, por divergencias com a sua direcção, segundo constou. Entre os
amigos de elevada posição que favoreceram este escriptor na sua carreira, além
do dr. Augusto Filippe Simões, elle contava com a dedicação dos conselheiros
dr. Augusto Cesar Barjona de Freitas, Thomás Ribeiro, dr. Rodrigo Velloso e
Gabriel Pereira. [...]
Foi
vereador da camara municipal de Evora. Falleceu nesta cidade aos 23 de março
1910, contando 74 annos de idade. Em varios periodicos appareceram artigos
necrologicos honrando a memoria deste estudioso e talentoso escriptor e poeta.
Por minha parte, mui sinceramente e com profundo sentimento registo a dor que
me causou a noticia da sua morte. Eu, como amigo, e este Diccionario devemos lhe finezas que não é possivel
esquecer.
Dias
antes do obito e sentindo nas visceras arruinadas não longe o termo fatal da
existencia, escrevera para Coimbra a um velho e dedicado amigo, dizendo lhe
amargamente: “Está a acabar a festa!” [...]»
Legou-nos Francisco Barata uma boa
centena de escritos, o que não está nada mal, em matéria de cultura e erudição,
num ex-barbeiro autodidacta!...