PAULO DA COSTA
DOMINGOS
ÓSCAR FARIA
et alii
Lisboa, 2019
ed. viúva frenesi
1.ª edição [única]
19 cm x 13 cm
40 págs.
ilustrado
impressão digital
acabamento com dois pontos em arame
exemplar novo
tiragem de apenas 100 exemplares
tiragem de apenas 100 exemplares
9,00 eur (IVA e
portes incluídos)
Brochura coligindo documentos internos da editora frenesi relativos à incidência cultural
da publicação sucessiva, no catálogo da mesma, dos livros Subsídio, Suicídio, Ostras Geladas (anónimo, 1998), Uma «Bardamerda» de Edição. Breve Comentário
Sobre um Dejecto Aparecido nas Livrarias (Paulo da Costa Domingos, 1999), Barbearia Tiqqun (Rui Baião, 2018), Romance Ardente (Manuel Fernando
Gonçalves, 2018) e Sumo de Limão – Silva
de Versos (Paulo da Costa Domingos, 2018). Brochura prevista como texto de
apoio à exposição evocativa dos 40 anos da frenesi
na Biblioteca Nacional (cancelada).
Henrique Manuel Bento Fialho (in Antologia
do Esquecimento):
«Comecemos pelas ostras, que dão sempre boa entrada. Paulo
da Costa Domingos (n. 1953), escritor, editor, antiquário de livros, organizou Ostras,
Doc. Interno (Janeiro de 2019, viúva
frenesi) enquanto relatório para distribuição pública “por ocasião da
mostra evocativa dos quarenta anos da frenesi
na Biblioteca Nacional”. Carimbo no cólofon informa: cancelada. Assim mesmo, sem mais. A frenesi é uma das relevantes casas editoriais portuguesas do século
XX, nascida em relação de proximidade com a & etc de Vitor Silva Tavares. O
legado impressiona qualquer amante de livros, não só pela poesia portuguesa e
pelas traduções. Ao cuidado gráfico aliou-se, desde a primeira hora, uma
atitude desafiadora com polémica garantida e alguns momentos hilariantes. A
memória de um desses momentos foi agora recuperada, não fosse o olvido fazer
das suas numa época que cada vez mais se exibe sem passado nem futuro.
Convém declarar acerca [do objecto que motiva este texto ser
ele] testemunho e tomada de posição. Testemunho enquanto contributo para uma
história que vale a pena inscrever e tomada de posição sobre o momento actual,
o qual se afigura, pela vertigem dos acontecimentos e aceleração dos fenómenos,
cada vez mais indiferente a um passado do qual não pretende colher exemplos nem
lições. As consequências são óbvias, com meticulosas omissões e uma capacidade
selectiva anormal a fazerem a cama a um estado de coisas que já nem pode ser
acusado de revisionista. Porque não revê nada, é pura rasura ao serviço da
ignorância e, por consequência, de poderes hegemónicos a quem essa ignorância
não só convém como serve. Se assim é a nível político e social, poderia não o
ser no mundo das letras?
Precisamente contra tais poderes hegemónicos surgiu há 40
anos e foi crescendo até hoje a editora frenesi,
agora viúva frenesi. Do catálogo, um
dos livros que deu que falar foi o anónimo Subsídio, Suicídio, Ostras Geladas (frenesi, Março de 1998). A questão da
autoria era ali omissa com o propósito específico de deixar à nora a crítica
literária, objectivo alcançado como o comprovam as recensões agora elencadas
por Paulo da Costa Domingos. O autor desconhecido
aguçou a imaginação, chegando a haver quem fizesse apostas. Sucede que o autor
eram três: “Os três-autores-três, que haviam escrito e sequenciado o livro,
constavam entre os mais mal tratados, ou reduzidos pelo silêncio, de todo o
catálogo da frenesi”. Lidos
cegamente passaram a ter qualidades que olhos esbugalhados jamais haviam
descortinado. Tem graça o divertimento, por ter conseguido “ridicularizar o
cientismo crítico literário”. Sabe-se hoje, por via da publicação de três
livros na viúva frenesi de 2017, que
os três implicados no objecto lírico não identificado eram Rui Baião, Manuel
Fernando Gonçalves e Paulo da Costa Domingos.
[...] O excelente ensaio de Óscar Faria que encerra Ostras,
Doc. Interno é, aliás, um forte contributo para a contextualização do divertimento nestas matérias. Ao invés
da mera provocação inconsequente e esvaziada de conteúdo, temos [nesta publicação
exemplo] de um esforço ao serviço da desmitificação. [...] Nas Ostras,
a desmitificação opera-se numa primeira instância ao nível da autoria e, por
consequência, resulta numa desmitificação da imprensa cultural: “Ao propor um livro escrito por autor anónimo, a
frenesi operou um gesto dirigido
sobretudo para dentro do meio literário, mais especificamente o das recensões
de livros de poesia, pois sem autor, sem uma biografia, um contexto, o que
resta para dizer?” (p. 26)
O desafio é exactamente este, percorrer caminho na direcção
do que resta. E o que resta para lá do Autor, essa marca que pode ser apagada
pelo anonimato, pela heteronimia ou pela pessoa colectiva, é a palavra na sua
máxima expressão, expurgada de rosto, palavra cortante, em estado bruto,
palavra cruel, selvagem, pura palavra. Seria de supor que o debate crítico se
desse apenas com esse texto, não carecendo de fotografia ilustrativa. Seria de
supor do crítico uma coragem no confronto com o desconhecido que ele de todo
não tem. Como em terra de cegos quem tem olho é rei, afasta-se de todo a
leitura cega. Há reinados de um só olho que poucos estão dispostos a perder,
sendo múltiplas e diversas as tácticas de conservação e os escudos protectores.
Que façam bom proveito.»pedidos para:
pcd.frenesi@gmail.com
telemóvel: 919 746 089 [chamada para rede móvel nacional]
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