MANOEL ALVES
coligidos, pref. e posf. Tomás da Fonseca
Lisboa, s.d.
Livraria Internacional - Almeida, Carvalho & Ca.
2.ª edição
204 mm x 135 mm
196 págs.
ilustrado no corpo do texto
encadernação recente de amador em meia-inglesa gravada a ouro na lombada
não aparado
conserva as capas de brochura
não aparado
conserva as capas de brochura
exemplar estimado, discretos restauros nas capas de brochura; miolo irrepreensível, por abrir
37,00 eur (IVA e
portes incluídos)
Manuel Alves (1843-1901), poeta popular analfabeto da zona
da Anadia, apreciado pela gente culta da sua época (poderemos comparar-lhe o
mais recente caso de António Aleixo), deve em primeira mão a Tomás da Fonseca a
preservação literária da sua arte de improvisador. Esse mesmo Tomás da Fonseca
que nos diz nas sentidas palavras de apresentação:
«[...] Poeta, cantava. Operario, trabalhava. De dia no
campo, á noite na officina. A sua vida era uma epopeia em dois cantos: moldar o
ferro e illuminar as almas. Durante bo sol, a sua enxada ia, por toda a parte,
volver a terra, abrir caminho á vida; pela noite fóra, despertava os echos da
solidão, malhando na bigorna o aço das alavancas com que elle, Archimedes
pygmeu, sonhava levantar o mundo.
A sua voz cantava, o seu peito gemia, o seu pulso vergava.
[...]
Os seus poemas fazia-os elle entre uma alegria e uma
tristeza, perdido na multidão do povo, em plena rua, ao accender das estrellas
ou ao orvalhar da madrugada.
Ao estupido goso da taberna, ás curtas e falsas regalias do
vicio, preferia elle a paz das conversações intimas, as alegrias do serão, á
lareira ou em pleno ar, nas noites quentes, lá quando a lua surge entre o
arvoredo e sóbe em pleno céu.
[...] O seu poema é sobretudo um honrado protesto em nome do
seu povo ultrajado, esse povo heroico e soffredor que
“Com dois farrapos se cobre
Por onde a lama se embebe,”
e sobre quem paira a garra das instituições,
“Esmagando-o á força bruta,
Levando-lhe a honra e a vida”
até o inutilisarem com
“... chagas abertas
Pelos tiros das metralhas.”
Protestar cantando, tal foi sempre o seu destino. [...]»