GUERRA JUNQUEIRO
capa e ilustrações de Alonso
Lisboa, 1913
Parceria Antonio Maria Pereira
2.ª edição, ilustrada
18,2 cm x 12,5 cm
44 págs.
exemplar muito estimado; miolo limpo
rubrica de posse nos cantos superiores direitos da capa e da folha de ante-rosto
25,00 eur (IVA e portes incluídos)
Poemeto publicado inicialmente em 1877 e posteriormente incluído na obra A Musa em Férias, surge aqui ilustrado pelo caricaturista talassa Alonso (nome artístico de Joaquim Guilherme Santos Silva). O propósito de Junqueiro – como, por exemplo, o do seu contemporâneo Antero (veja-se a Advertência ao Thesouro Poetico da Infancia, Ernesto Chardron Editor, Porto, 1883) – é pedagógico, fazendo um intervalo na sua poesia de afrontamento republicano. A infância era, então, uma aposta dos progressistas, que acreditavam existir em toda e qualquer criança, latente, um poeta. Mas o propósito educativo, mesmo para a época, pelo menos no caso de Junqueiro, afigura-se-nos duvidoso... Senão, leiamos uma passagem em que os imberbes personagens do motivo literário brincam, por assim dizer, “aos adultos”:
«[...] Com todas as qualidades
Da menagère exemplar,
Em quanto o irmão faz cidades,
Bebé prepara o jantar.
Dorme a boneca ao pé d’ella
No berço. De quando em quando
Bebé escuma a panella
Que está fervendo e cantando.
Mexe o guisado e a fritura,
Vê se têm o sal bastante,
E sentando-se á costura
Com um ar meigo, radiante,
Em quanto a creança loira
Dorme o bom somno florido,
Co’a illusão d’uma tesoira
Talha a illusão d’um vestido.
Mas são horas; o irmãosito
Já deve de andar cansado
Das construções de granito
E da rabiça do arado. [... etc., etc., etc...]»
Trata-se da representação de um mundo mesquinho com o homem sempre nas alturas dos grandes projectos, a correr mundo, ou, pelo menos, ao ar livre, enquanto a mulher permanece aprisionada na procriação e na lide doméstica. Pouco depois, com o advento dos provincianos salazaristas, tudo isto veio a ser sistematizado como modelo incontestável de encarceramento de uma sociedade inteira.
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