sábado, novembro 04, 2023

Manobra Portuária

 

PAULO DA COSTA DOMINGOS
capa e ilust. Luís Rocha


Lisboa, 2023
Barco Bêbado | viúva frenesi
1.ª edição
210 mm x 130 mm
52 págs.
ilustrado
exemplar novo
17,00 eur (IVA e portes incluídos)

Alguns versos:

Rocha sem fòrma ou sombra,
procuro alguma perfeição
por mão artífice. Por outro lado,

ardo, um braço, uma tocha
com a ferocidade, a malícia cruel
de uma infância outra.

Escurece. Rostos dissolvem-se, negros,
observados a fògos-fátuos, vigilantes:
um sistema construído

para mútua espionagem e juízo.
Um sistema de absorção da coragem:
dor, suas causa e conseqüência.

¿Quem tem a chave da concha vazia
do dia-a-dia... onde se acolitam
conseguimentos por conta d’ outrem?

Frustrante. Apenas um esbôço
de movimento para diante
visto nos diferentes ângulos.

Mas uma ideia deve escrever-se
vezes sem conta, no caminho
d’ alguma moratória certeza.

Hesito, solitário de novo
no perigo da escrita
pelo campo das imagens

convencionais, à procura
do encontro e da superação
em sua honra: depauperando-me.

Campo do silêncio e da chama
ateáveis. ¿Quem tem a chave
de um longo e duro olhar?

*

A fôrça do passado: um cheiro
podre a pele engordurada que
arde degrau a degrau: cinza
operativa tal como placenta;

o passado, por aquilo a que fòrça
– acesso ou isolamento na desolação –
escraviza. A fôrça da oralidade
contra a escrita (a História) reverte

a verdade em dúvida, em histórias
de bairro entre cheiros gordos:
sujas dinastias de virilhas escondidas,
eventualmente. Na pequena lista

das coisas familiares e palpáveis
insinua-se o conceito (o quisto,
o trombo, a ordem) que tudo degrada
e mata. A fôrça do passado

empurra, empesta. Paga-se
devorado: nunca mais, o trabalho,
a folha de ordenado, que uma floração
(uma floração outra) obriga.

Mesmo qüando não arde, arde, e
morde o coração profundo: fòrça;
qüando poder-se-ia apenas respirar
olhos postos numa eterna doçura

sem azedume ou medo, murmúrio
apenas: as palavras acima da palavra
como segredos de fumo, como:
pérolas segregadas, imagens sem verbo,

que nada ferem, nenhuma denúncia,
ou remoque. A fôrça evocativa
do verde-esmeralda que resolve, infere,
a magia negra, de uma noite, no

silêncio trepidante… ¿Onde estás...
onde?... Algo se alia a algo nunca
conhecido.

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