VERGÍLIO FERREIRA
capa de Sebastião Rodrigues
Lisboa, 1960 (Junho)
Portugália Editora
2.ª edição
193 mm x 136 mm
292 págs.
exemplar estimado, capa suja; miolo limpo
35,00 eur (IVA e portes incluídos)
Segundo João Gaspar Simões, em palavras suas que o editor puxou para a badana,
este romance é um caso «[...] tão extraordinário que vale a pena compará-lo com
o desse outro romance a que a nossa literatura deve a implantação do realismo
em Portugal. De facto, na minha opinião, a “réussite” de Vergílio Ferreira só é
comparável com a de Eça de Queirós ao escrever a primeira versão de O
Crime do Padre Amaro.»
Do livro, uma passagem:
«[...] Acendo um cigarro, fico-me a olhar o incêndio. Lembra-me imagens da
guerra, de cidades bombardeadas. Alguém deve ir pegando o fogo por sectores,
estabelecendo linhas de chamas que o vento vai impelindo. O campo arde
vastamente, como numa destruição universal. Quase ouço o crepitar das chamas
como o fervor final de uma inundação. Sinto-me só e nu, escapado ao desastre.
Mas esta nudez que eu algum dia julguei possivelmente coberta pela compreensão
dos outros, esta redução extrema às minhas raízes, esta solidão inicial de quem
não pode esquecer a sua pobre condição é o sinal humilde e amigo de que à vida
que me deram a não repudiei, de que cuidei dela, a não perdi, a levo comigo
nesta viagem breve, a aceito ao meu olhar de fraternidade e perdão... A noite
avança, a minha cidade arde sempre. Vou fundar outra noutro lado. Mas não sabia
eu que ela devia arder? Acaso será possível construir uma cidade como a
imagino, a Cidade do Homem? Acaso não dura ela em mim, no meu sonho, apenas
porque a penso sem consequências, a imagino, a não vivo, lhe não exijo
responsabilidades? Não o sei, não o sei...»
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