JOÃO DE ARAÚJO
CORREIA
capa de Tòssan
Régua, 1968
Imprensa do Douro Editora
1.ª edição
192 mm x 128 mm
304 págs.
exemplar estimado, vinco na capa; miolo
limpo, parcialmente por abrir
VALORIZADO PELA DEDICATÓRIA MANUSCRITA DO CAPISTA TÓSSAN
35,00 eur (IVA e portes já incluídos)
«Terá perdido de moda, nas cidades, o pão e o azeite. Até o
vinho terá perdido de moda em meios chiques, mas, tão chilros, que até em
ágapes alegres o substituem por melancólicos sumos de banana e outros frutos
anódinos.
Em região vinícola, o próprio camponês, querendo botar
figura, substitui o vinho por cerveja. Lembra o novo-rico da última guerra,
volframista de bolso quente, que substituía o pão de milho e de trigo por
bolacha-maria e pão-de-ló. [...]» – Assim abre as “hostilidades” o
médico-escritor, neste seu conjunto de crónicas, ou breves narrativas pessoais apoiadas
na memória do quotidiano, despretenciosas, redigidas a rigor, patenteando uma
sensibilidade invulgar, cristalina. Leia-se, à meditação, como encerra o livro,
«Porque Deixei de Caçar»:
«[...] Levantou-me, no Monte Calvelo, um bando de perdizes.
Apontei, mas, não matei. Feri. Com um grão apenas, tolhi no voo uma ave. Caiu e
pôs-se a caminhar para mim, e eu a caminhar para ela. Pediu-me, com olhos admirados,
espantados, próprios de quem vê o mal pela primeira vez, que a não matasse.
Disse-me não sei que mais, que era irmã ou mãe daquele bando... Não ouvi bem.
Peguei-lhe pelas pernas e dei-lhe com a cabeça numa pedra. Matei-a... Mas, que
covarde que eu fui! Tenho remorsos dessa covardia. Nunca mais cacei, sou
incapaz de pegar numa arma para sair ao monte. [...]»
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