sábado, outubro 17, 2020

Horas Mortas




JOÃO DE ARAÚJO CORREIA
capa de Tòssan

Régua, 1968
Imprensa do Douro Editora
1.ª edição
192 mm x 128 mm
304 págs.
exemplar estimado, vinco na capa; miolo limpo, parcialmente por abrir
VALORIZADO PELA DEDICATÓRIA MANUSCRITA DO CAPISTA TÓSSAN
35,00 eur (IVA e portes já incluídos)

«Terá perdido de moda, nas cidades, o pão e o azeite. Até o vinho terá perdido de moda em meios chiques, mas, tão chilros, que até em ágapes alegres o substituem por melancólicos sumos de banana e outros frutos anódinos.
Em região vinícola, o próprio camponês, querendo botar figura, substitui o vinho por cerveja. Lembra o novo-rico da última guerra, volframista de bolso quente, que substituía o pão de milho e de trigo por bolacha-maria e pão-de-ló. [...]» – Assim abre as “hostilidades” o médico-escritor, neste seu conjunto de crónicas, ou breves narrativas pessoais apoiadas na memória do quotidiano, despretenciosas, redigidas a rigor, patenteando uma sensibilidade invulgar, cristalina. Leia-se, à meditação, como encerra o livro, «Porque Deixei de Caçar»:
«[...] Levantou-me, no Monte Calvelo, um bando de perdizes. Apontei, mas, não matei. Feri. Com um grão apenas, tolhi no voo uma ave. Caiu e pôs-se a caminhar para mim, e eu a caminhar para ela. Pediu-me, com olhos admirados, espantados, próprios de quem vê o mal pela primeira vez, que a não matasse. Disse-me não sei que mais, que era irmã ou mãe daquele bando... Não ouvi bem. Peguei-lhe pelas pernas e dei-lhe com a cabeça numa pedra. Matei-a... Mas, que covarde que eu fui! Tenho remorsos dessa covardia. Nunca mais cacei, sou incapaz de pegar numa arma para sair ao monte. [...]»

pedidos para:
telemóvel: 919 746 089