JOSÉ RODRIGUES
MIGUÉIS
Rio de Janeiro, 1946
Edições Dois Mundos / Livros de Portugal, Ltda.
1.ª edição
21,6 cm x 14,6 cm
236 págs.
encadernação da época em tela encerada com elegante gravação
a ouro na lombada
corte carminado à cabeça, sem capas de brochura
exemplar (n.º 1.016) naturalmente envelhecido pelo tempo mas
bem conservado; miolo limpo
assinatura de posse na folha-de-guarda
45,00 eur (IVA e portes incluídos)
Escreve o seu amigo e biógrafo, o jornalista Mário Neves
(ver José Rodrigues Miguéis – Vida e Obra,
Editorial Caminho, Lisboa, 1990):
«[...] As preocupações resultantes
da conjuntura perturbavam naturalmente o sossego espiritual do escritor,
prejudicando o rendimento do seu trabalho criador. [Miguéis já se encontrava
radicado nos Estados Unidos, nessa altura em que a guerra assolava a Europa...].
Embora tendo sofrido uma curta pausa, não suspendeu, porém, completamente a
actividade literária e aproveitou até esse período para reunir material já
pronto ou para lhe introduzir alguns retoques com vista a publicação futura.
Uma das obras que preparou então foi o livro de contos Onde a Noite Se
Acaba, com o qual reatava a tradição interrompida com o seu primeiro volume
Páscoa Feliz e que as Edições Dois Mundos se propuseram lançar no Rio de
Janeiro, incluído na Colecção Clássicos e Contemporâneos, dirigida por Jaime
Cortesão e sob a responsabilidade de Danton Coelho. Foi este que, dados os
entraves provenientes da censura militar, obteve a remessa do manuscrito para o
Brasil, por mala diplomática. Tal intervenção amiga justifica a carta do autor,
publicada à laia de prefácio do livro, com algumas explicações interessantes
que, a propósito de um dos trechos do volume, definem essa prosa como “resíduo
de longos anos em que a acção e dificuldades objectivas, viagens e exílio,
estudos e trabalhos, queimaram as asas de um sonho primordial... documento das
torturas a que o espírito se sujeita para persistir”. Prosseguindo a sua
justificação, esclarece: “Estas novelas estão longe, no seu conjunto, de
reflectir a minha personalidade, as minhas ideias, a minha incontável
experiência destes anos.” E acrescenta: “Algumas destas histórias têm, por
certo, um mórbido sabor, flutuam num mundo de íncubos e sombras. Mas era
mórbida, já o disse, doentia e sem esperança, a atmosfera desses anos
portugueses. Respirava-se ilusão gorada, sonho putrefacto.” Prosseguindo, diz
ainda: “Outras são inspiradas imediatamente do real. Já me têm chamado escritor
subjectivo, proletário, impressionista, neo-realista, e não sei que outras coisas.
Pouco importa. Não é o rótulo que me interessa, mas a substância. E dessa ainda
eu não dei a prova definitiva.” [...]»
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