JEAN DUBUFFET
trad. Serafim Ferreira
grafismo de Fernando Felgueiras
Lisboa, 1971
Publicações Dom Quixote
1.ª edição
182 mm x 112 mm
136 págs.
exemplar estimado; miolo irrepreensível
17,00 eur (IVA e
portes incluídos)
Uma das mais estúpidas declarações que um editor alguma vez
se prestou a fazer durante o regime fascista consta da ficha técnica dos livros
desta editora: «As opiniões expressas neste volume não são necessàriamente as
da Editora»...!!!!!!! Como é óbvio, nunca foi isto que evitou a apreensão, por
parte da censura, de muitas das obras publicadas no catálogo das então
Publicações Dom Quixote. Ou será que naquela gente não havia mesmo qualquer
cumplicidade intelectual e cultural para com os autores à custa dos quais mantinham
a porta aberta?... Até porque precisamente Jean Dubuffet era, para a época (e é
ainda hoje!), uma pedra de arremesso sobre a cultura tornada mercadoria com
secretaria de Estado, com ministério, com mandarinato crítico-jornalístico e
alfaiates do gosto que lhes atribuem prémios de carreira e a institucionalizam. Uma passagem, ao acaso:
«[...] Os intelectuais recrutam-se nas fileiras da classe
dominante ou entre aqueles que aspiram a integrar-se nela. O intelectual, o
artista, conquista sobretudo um título que o coloca em pé de igualdade com os
membros da casta dominante. Molière janta com o rei. O artista é convidado para
as festas das duquesas, como o padre. Chego a perguntar-me em que desastrosa
proporção não baixaria entretanto o número de artistas se porventura essa
prerrogativa fosse suprimida. Basta reparar bem no cuidado que os artistas
manifestam (com as suas maneiras de vestir e os seus comportamentos
particularizantes) para se fazerem reconhecer na qualidade e mostrarem-se bem
diferentes das pessoas vulgares. [...]»