segunda-feira, janeiro 23, 2023

Cultura Asfixiante


JEAN DUBUFFET
trad. Serafim Ferreira
grafismo de Fernando Felgueiras

Lisboa, 1971
Publicações Dom Quixote
1.ª edição
182 mm x 112 mm
136 págs.
exemplar estimado; miolo irrepreensível
17,00 eur (IVA e portes incluídos)

Uma das mais estúpidas declarações que um editor alguma vez se prestou a fazer durante o regime fascista consta da ficha técnica dos livros desta editora: «As opiniões expressas neste volume não são necessàriamente as da Editora»...!!!!!!! Como é óbvio, nunca foi isto que evitou a apreensão, por parte da censura, de muitas das obras publicadas no catálogo das então Publicações Dom Quixote. Ou será que naquela gente não havia mesmo qualquer cumplicidade intelectual e cultural para com os autores à custa dos quais mantinham a porta aberta?... Até porque precisamente Jean Dubuffet era, para a época (e é ainda hoje!), uma pedra de arremesso sobre a cultura tornada mercadoria com secretaria de Estado, com ministério, com mandarinato crítico-jornalístico e alfaiates do gosto que lhes atribuem prémios de carreira e a institucionalizam. Uma passagem, ao acaso:
«[...] Os intelectuais recrutam-se nas fileiras da classe dominante ou entre aqueles que aspiram a integrar-se nela. O intelectual, o artista, conquista sobretudo um título que o coloca em pé de igualdade com os membros da casta dominante. Molière janta com o rei. O artista é convidado para as festas das duquesas, como o padre. Chego a perguntar-me em que desastrosa proporção não baixaria entretanto o número de artistas se porventura essa prerrogativa fosse suprimida. Basta reparar bem no cuidado que os artistas manifestam (com as suas maneiras de vestir e os seus comportamentos particularizantes) para se fazerem reconhecer na qualidade e mostrarem-se bem diferentes das pessoas vulgares. [...]»

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