PIERRE ALFERI
trad. Jorge Pereirinha Pires
capa, paginação e grafismo de Paulo da Costa Domingos
Lisboa, 2024
Barco Bêbado
1.ª edição
210 mm x 131 mm
184 págs.
ilustrado
capa impressa a uma cor directa sobre cartolina branca, sobrecapa impressa a
prata e recorte de onda no papel goufrado
exemplar novo
20,00
eur (IVA e portes incluídos)
Como foi possível meia dúzia de casas editoras, com intuitos de ser uma referência
em colecções de poesia, não terem publicado, nos últimos 50 anos, um único
livro de ensaio que historiasse ou referisse explicitamente a arte poética,
enquanto técnica literária ou filosofia da linguagem?! Gerou-se, então, um
monstro no sono dessa nula Razão: a besta-fera do vale tudo verbal, inclusive
atirar poeira suja para os olhos dos leitores, servindo-lhes como poemas aquilo
que nada é senão verborreia débil de sentido e de Vida vivida. Impera, assim,
uma completa ausência de informação teórica, vertida para português ou, ainda
menos, com origem na língua portuguesa. Mas não quer isto dizer que rareie o
atrevimento de “escritores” nos caminhos pedregosos do género. E são, enxameadamente,
ecrãs sobre ecrãs internéticos, espaço privilegiado e sem juízo nem controlo,
de diarreias tendo-se na conta de versos, de poesia, e que acabam por fazer o
seu caminho até aos catálogos de editores gemeamente ignorantes.
A jovem casa Barco Bêbado, para além das pérolas culturais a que já habituou os
seus leitores, dá agora a conhecer, ao 51.º título publicado, o seminal Breves
| discursos, do falecido poeta e ensaísta francês Pierre Alferi (e
letrista de canções, pelo menos no primeiro disco da cantora e actriz Jeanne
Balibar), vindo deste modo preencher a supra-mencionada lacuna teórica.
Uma passagem apenas, do texto de Alferi:
«[…] O que é um verso? Sobre esta noção pesa hoje em dia um equívoco
grave, e que tem a sua importância na presente situação da poesia. A antiga
concepção do verso como unidade (não gramatical) estava ligada ao repertório
dos tipos de versos (antigos, modernos). Se continuarmos a fazer prevalecer
esta concepção, a poesia identifica-se com o verso, e escrever poesia com fazer
versos (caricatura na estética do “belo verso”). Ora, da maioria dos poetas que
contaram desde há cinquenta anos não se pode dizer que eles faziam versos. Nem
Pound, nem Celan, por exemplo. Porquê? Por causa da história geral da passagem
para segundo plano dos tipos de versos perante uma prosódia dinâmica mais
flexível (a do verso projectivo de Olson, por exemplo). […] É portanto uma
outra concepção do verso que vem à luz, ainda que implicitamente. Ela já não
coloca a ênfase na unidade do verso (nem semântica nem gramatical, nem mesmo
prosódica como a que se achava pressuposta na poesia que desposava tipos de
versos), mas no próprio corte, que é essencialmente agramatical, e no
encavalgamento que marca esse carácter não gramatical da organização verbal. O
corte já não é portanto o encerramento da unidade-verso, mas um sinal de
pontuação especificamente poético cuja força aparece no encavalgamento. O
verso, reduzido à acção de cortar e, muitas vezes, de encavalgar, não é então
mais do que um instrumento de trabalho rítmico sobre a frase. Do ponto de vista
da unidade, um verso não é mais do que um pedaço ou pedaços de frases. Escrever
poesia já não é fazer versos, mas fazer frases talhadas ritmicamente por meio,
entre outras coisas, do corte. […] Parece-me que só esta concepção do verso tem
sentido hoje em dia, e que o recurso aos antigos tipos de versos, tal como à
contagem isossilábica, dificilmente poderá ser outra coisa, para o dizer
brutalmente, senão o efeito da ignorância ou de uma reacção.
[…] A poesia, é ritmo, nada mais do que ritmo. Tudo o resto são maneirismos. […]»
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