sexta-feira, março 22, 2024

Mediterrâneo


GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA
ilustrações de Estrela Faria

Lisboa, 1934 [1935]
Sociedade Nacional de Tipografia
1.ª edição
183 mm x 119 mm
2 págs. + 180 págs.
subtítulo: Crónicas de Viajem
exemplar em bom estado de conservação; miolo limpo
VALORIZADO PELA DEDICATÓRIA MANUSCRITA DO AUTOR AO JORNALISTA ALBINO FORJAZ DE SAMPAIO
37,00 eur (IVA e portes incluídos)

Livro de observações durante uma viagem pelo Mediterrêneo, o conhecido olisopógrafo anota a dado passo:
«[...] Em Itália mesmo quem o não é, tem de sê-lo forçosamente... até sem dar por isso. Numa fase excitante de confiança em si mesma, abrazada numa fé vivíssima, embora doentia e acusando uma anormalidade de psicologia étnica, sobrepujando toda a lógica e todo o raciocínio, a nação embriaga-se com o Falerno nacionalista que, perturbando-lhe o cérebro, lhe dá soberbas inacreditáveis. Todo o país, vive numa sobreexcitação extranha, sacrificando, voluntária ou involuntáriamente, os individualismos, os critérios pessoais, o pessoalismo de cada espírito, para que um só indivíduo a possa agitar, manter e entusiasmar, arrastando tudo atraz de si numa febre cega e iluminada. Em qualquer parte da Itália que se esteja, cidade ou aldeia, orla do litoral ou campo interior, continente ou ilha, metrópole ou colónia, essa fé efervescente logo se denuncia. Muros, casas, tapumes, paredes, consciências, todo o espaço livre e consentidor, físico ou moral, exibe uma efígie e um nome, uma fisionomia ou uma legenda, um aplauso ou uma exortação.
Os cartazes, os placards, os afiches, são uma inundação tumultuosa, permanente, aflitiva. Chegamos a ter receio de levantar o guardanapo do prato, ou de abrir a portinha mais recôndita e mais discreta. [...]
Camada a camada, o povo vai-se integrando cada vez mais na idéa e no plano. Aos que cresceram no desabrochar do sonho, seguem-se os que nasceram já dentro dêle. E os pequeninos italianos educando-se a cantar um hino, movendo-se a toques de corneta, militarizados, uniformizados, como os vi em Trieste, formam batalhões que, por muita deserção que haja, se não perderão todos para o acrescentar do fermento nacionalista.
O orgulho fascista não tem limites. [...]»

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