JOSÉ CARDOSO PIRES
ilust. João Abel Manta
Lisboa / Rio de Janeiro, 1972
Editora Arcádia / Editora Civilização Brasileira S. A. R. L.
1.ª edição
24,7 cm x 17,4 cm
96 págs. + 21 folhas em extra-texto
profusamente ilustrado em separado
encadernação editorial em sintético com gravação a ouro na
pasta dianteira e na lombada, protegida com a mica de origem
exemplar em muito bom estado de conservação; miolo
irrepreensível
É O N.º 1 DE UMA TIRAGEM DECLARADA DE 120 EXEMPLARES
IMPRESSOS SOBRE PAPEL ESPECIAL DE COR MOSTARDA, ASSINADO PELO ESCRITOR E PELO
ILUSTRADOR
peça única, de colecção
1.750,00 eur (IVA e portes incluídos)
Sátira política, escrita de forma desabrida e sem rodeios ou
hesitações, ao estilo oitocentista da Viagem
à Roda da Parvónia (Gil Vaz, pseud.). O livro caricaturiza Salazar e a
parte da nação que o aplaudia e perpetuava numa descarada busca de benesses e
privilégios. Caricatura feroz, que João Abel Manta reforça com os seus desenhos
igualmente corajosos. As primeiras linhas desta alegoria anunciam desde logo o
que vai seguir-se: «[...] não há muito tempo existiu no Reino do Mexilhão um
imperador que na ânsia de purificar as palavras acabou por ficar entrevado com
a paralisia da mentira. Ainda lá está, dizem. E não é homem nem estátua porque
a ele, sim, roubaram-lhe a morte. Não faz parte deste nosso mundo nem daquele
para onde costumam ir os cadáveres, embora cheire terrìvelmente. Quando muito é
isso, um cheiro. Um fio de peste a alastrar por todas as vilas do império.
[...]» O sabor da narrativa espraia-se daí em diante, mesmo os personegens de
Cardoso Pires têm nomes de cena que, só por si, dizem tudo, como o Juiz das
Causas Combinadas, ou frei Pantaleão das Bulas. É a contemporânea História de
Portugal, o seu resumo imediato, desfiando-se como reportagem por dentro do
regime sócio-político vigente na altura, e igual a si próprio, até ao capítulo
Epílogo, este uma pequena obra-prima da literatura panfletária portuguesa. Lá
se lê, com um sorriso amargo e um aperto no estômago, como foi possível mascarar
o colapso da governação de Salazar, sem que o próprio disso se apercebesse,
após a sua queda da cadeira em Agosto
de 1968 e até Julho de 1970, enquanto o seu sucessor, Caetano, contava as
espingardas e garantia um lugar na vergonha pátria.