sexta-feira, julho 28, 2023

Bichos [encadernação]

 

MIGUEL TORGA

Coimbra, 1941
s.e. [ed. autor]
2.ª edição («aumentada»)
195 mm x 135 mm
128 págs.
impresso sobre papel superior avergoado
encadernação inteira em pergaminho colorida à mão [assinada: Elisabeth enc. 1946], folhas-de-guarda em papel de fantasia com motivos florais
aparado somente à cabeça
conserva as capas de brochura e a lombada numa palheta
exemplar muito estimado; miolo limpo
assinatura de posse no ante-rosto
ostenta colado no verso da pasta posterior um ex-libris [?] brasonado sob a forma de selo branco
PEÇA DE COLECÇÃO
150,00 eur (IVA e portes incluídos)

Acerca do livro, propriamente dito, escreveu o poeta de referência Joaquim Manuel Magalhães (in Poesia Portuguesa Contemporânea, Bestiário, s.l., 2022):
«Por razões profissionais, tive de reler, ao fim de muitos anos, Bichos, de Miguel Torga. Quando acabei, percebi o que é a literatura provocar o estado de nojo.
Não se trata de recusar a possibilidade de quem quer que seja a instituir o seu autor no que quer que seja. Mas pergunto-me qual a verdadeira razão por que pretendem erigi-lo em pilar moral de uma suposta sociedade melhor. Se virmos bem, quem o quer hipostasiar fala sempre em ética e quase nunca em literatura. Qual será a razão?
No caso deste livro, suponho que, inexplicavelmente, serão estas as causas: o sexismo primário de inúmeras situações e considerações; o antropomorfismo simplista com que nos quer impingir fábulas deprimentes; a pose fradesca de considerações tecidas em prosa desbocada (estará aqui a raiz portuguesa do filão que, passando por alguns neorrealistas sem invenção, veio desaguar na mais promovida prosa dos últimos anos?).
Está tudo muito bem colocado numa nota introdutória, que é o mais calculado autopublicitarismo que me foi dado ler: pretensamente humilde, manhosamente confiante, rasteiramente humanitarista. Deste sopé se ergue o cume de todo o edifício de atração ao leitor médio, ao leitor massa, ao leitor maioria. Tal como o autor, ele surge enquanto saudável procriador. Não há nada que mais abrace ninguém do que chamar-lhe avô, dar-lhe prole de prole e vida ampla para a gozar, entre beatismo unescoide e boas-consciências pequeno-burguesas.
“Isto” tudo se pede em bastantes escolas do nosso país, e é isso o que me indigna que seja interiorizado. Através “disto” se pode aprender o que é a literatura e os mais parvos estereótipos comportamentais, por aí fora! Não vão os alunos pretender coisas doentias como o cosmopolitismo, coisas vergonhosas que não convenham a netos que queiram ser avôs, coisas repelentes como não andarem os machos à zaragata por causa das fêmeas e estas bem submetidas aos desejos daqueles. Tudo isto num português retrógrado, alambicado de regionalismos (quantas vezes não pensei em Aquilino como antídoto) e com um ritmo de quem apenas pretende despachar a catequese. […]»

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